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terça-feira, 21 de agosto de 2012

História para 21.08.2012

MAU ALIADO


Dantes, o cavalo e o veado eram amigos. Repartiam as
mesmas pastagens. Bebiam lado a lado da água do mesmo
ribeiro. Dormiam, trocando calor, na paz do mesmo
conchego. Eram amigos, pronto.
Mas, nem eles saberiam dizer porquê, um dia,
zangaram-se.
Ou porque um pisou a relva destinada ao outro.
Ou porque um turvou a água que o outro ia beber.
Ou porque um se agitou no sono e interrompeu o dormir
do outro.
Por qualquer ninharia tola deixaram de ser amigos.
Zangaram-se, pronto.
Muito enfadado com o antigo parceiro, o cavalo foi ter
com o homem.

– Quero que tu me livres do javardão do veado – disse
ele ao homem, por sinal um caçador de arco e flecha.
– Isso interessa-me – respondeu o homem, aprestando os
instrumentos de caça. – Mas o veado é rápido. Vai ser
difícil apanhá-lo.
– Não é impedimento, se tu me montares – ofereceu-se
o cavalo. – Eu sou tão ou mais rápido do que ele  e
depressa o alcançaremos.
Não sei se já disse que o cavalo era selvagem.
Nunca tinha suportado peso nenhum em cima nem sabia
o que era puxar uma carroça. Vivera sempre em liberdade,
ao lado do veado, e longe dos homens, das cilhas, das selas,
dos freios, das bridas, das esporas, que os homens
inventam para submeter os cavalos ao seu mando. Era
livre, pronto.

Aparelhado à conveniência do caçador, lá foi o cavalo a
galope, ao encontro do veado. Caçá-lo não custou nada.
– Livrei-te do teu inimigo – disse o cavaleiro ao cavalo.
– Estás contente?
Aqui para nós, o cavalo o que estava era arrependido.
Ver o antigo companheiro trespassado pelas setas do
homem doía-lhe muito. Mas fez-se forte e disse:
– Claro que estou contente. Este veado não merecia
outra coisa. Agora tira-me a sela e desaperta-me as
correias. Quero gozar sozinho o que, dantes, tinha de
partilhar com o paspalhão do veado.
O homem riu-se:
– Acho-te muita graça, cavalinho. Então tu julgas que,
depois do trabalho que me deste, ia deixar-te partir?
– Mas foi só um serviço, um negócio, uma aliança entre
nós dois – protestou o cavalo. – Arrumado o caso, volta

cada um para seu lado. Liberta-me do freio que me está a
magoar.
– Nunca mais – sentenciou o homem. – Vais conhecer as
minhas cavalariças, assim como já conheceste as minhas
ordens.
De nada valeu ao cavalo escoicear e encabritar-se, na vã
tentativa de escapar ao aperto do homem. Ele era um bom
cavaleiro e estava habituado a domar cavalos selvagens.
Aquele oferecera-se. Agora suportava as consequências.
O cavalo acabou por aceitar, resignado, o seu novo
destino. Era o castigo, pronto. Acabou-se.



FIM



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