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quarta-feira, 22 de agosto de 2012

História para 22.08.2012


A GOTA COM SEDE


Era uma vez uma gota cheia de sede. Não faz sentido,
mas acreditem que assim era.
Esta gota de água queria matar a sede a alguém que
tivesse muita sede. Desejo grande, desejo único que  a
arredondava mais e mais, e a enchia de fé como um
coração palpitante. Mas não havia meio.
Cavalgando uma nuvem, correu o deserto, à cata de um
viajante sequioso. Não encontrou nenhum.
Depois, percorreu, por cima dos mares, as ondas revoltas
dos oceanos. Talvez um náufrago de boca salgada
precisasse dela e da sua ajuda doce. Assim que o visse, ela
caía lá do alto e poisava nos lábios do náufrago como uma
última bênção. Mas não encontrou nenhum.
Queria ser útil. Não conseguia.


Até que a nuvem em que vinha, de carregada que estava,
não podendo mais, se desfez em chuva. Ela precipitou-se
para a terra, no meio das outras.
– Vou lavar as pedras da calçada – dizia uma.
– Vou mergulhar até à raiz de uma planta e dar-lhe vida
– dizia outra.
– Vou acrescentar água a um rio quase seco. Vou ajudar
uma azenha a trabalhar. Vou alimentar uma barragem. Vou
empurrar um barco encalhado.
Isto diziam várias gotas, todas generosas, enquanto
caíam.
Se cada uma cumpriu ou não o seu destino, não sabemos,
porque nesta história só nos ocupamos da gota com sede de
matar a sede.
Caiu na copa de uma árvore e foi escorrendo de ramo em
ramo, pling, pling, pling, como uma lágrima feliz.
Até que chegou a uma folha, mesmo por cima de um
ninho. Caio? Não caio? Deixou-se ficar, a ver no que dava.

A casca de um ovo estalou e um passarinho rompeu,
aflito, lá de dentro, de bico aberto, num grito mudo.
– Caio – decidiu a gota.
Soltou-se da folha para a garganta aberta do passarinho,
que a engoliu e, logo em seguida, piou, agradecido.
Foi o passarinho, tempos depois, que me contou esta
história.


FIM




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