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sábado, 25 de agosto de 2012

História para 25.08.2012


UM AVENTAL CHEIO


Isto passou-se num tempo em que mouros e cristãos
andavam à bulha pela mesma terra, por sinal a mesma que,
mais tarde, se chamou de Portugal.
Uns de um lado, outros do outro, conquistavam vilas e
aldeias, que logo a seguir tinham de abandonar, para mais
depois reconquistarem, numa luta desenfreada e sem
fronteiras certas. Alfanges e espadas cruzavam-se com
raiva, corria sangue, perdiam-se muitas vidas.
Aconteceu que, uma vez, não sei onde, uma mulher
sarracena estava para dar à luz. O marido, aflito, procurou
entre as mulheres mouriscas quem a socorresse, mas
nenhuma tinha experiência para tal. Falaram-lhe, no
entanto, de uma parteira cristã, que vivia do outro lado da
guerra.

O homem arriscou-se. A coberto da noite, evitou as
sentinelas e conseguiu chegar a casa da parteira. Com
muito bons modos, pediu-lhe que lhe acudisse à mulher e
ao filho que estava para nascer.
– Prometo encher-te o avental de riquezas – disse ele, a
convencê-la.
A parteira, ou por cobiça ou por condoimento, foi com o
mouro, passando, no entanto, pelos mesmos riscos por que
ele tinha passado.
Concluído o parto, sossegada a mãe com o bebé nos
braços, o mouro mandou-a levantar o avental  e
despejou-lhe para a abada dele uma cesta cheia de carvão
de lenha.
– Guarda-a até chegares a casa – avisou-a o pai do
menino que ela ajudara a nascer.

A mulher sentiu-se lograda, mas temeu-se de protestar,
receosa de que o mouro lhe levasse a mal. No seu íntimo,
resmungava: "Então este montinho de carvões, que me
sujam o aventalinho de chita, é que valem a riqueza
prometida? Da próxima não torno, ai não torno não, mouro
velhaco".
Voltava para casa já de madrugada. Uns soldados
cristãos, que estavam de atalaia, viram-na e mandaram-na
parar, de lanças em riste:
– Se vens de terra inimiga, não vens por bem – disseram-
-lhe.
Ela benzeu-se diante deles e mostrou-lhes o seu leve
carrego de carvões, desculpando-se:
– Sou uma pobre mulher que anda a colher gravetos de
uma queimada, para conforto da casa e meu e de meu gato,
que gosta de dormir ao borralho.

Deixaram-na ir. Quando chegou a casa e fechou a porta
atrás dela, de coração ainda a bater de susto, ia para deitar
os carvões para a lareira e viu que – olhai a surpresa! –
tinha o avental cheio de barras de ouro. Até o pó de carvão
se tinha transformado em ouro em pó. Afinal o mouro era
um mágico e não lhe falhara a paga.
Parece que o único que não apreciou a transformação foi
o gato que gostava de dormir ao calor do borralho.


FIM





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