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terça-feira, 28 de agosto de 2012

História para 28.08.2012


O GATO GATARRÃO COME TUDO À MÃO

Era uma vez um gato e era uma vez um papagaio.
Encontraram-se os dois nesta história e falaram assim:
– Queres vir jantar comigo? Sou eu que ofereço  –
convidou o papagaio.
– Só se o jantar valer a pena... – respondeu o gato, que
era bastante malcriado.
O papagaio sabia receber. Preparou uma rica mesa de
paparicos que lhe deram imenso trabalho a cozinhar. Peixe,
perna de vitela, fruta, chá e bolos, quinhentos bolos
redondinhos, acabados de sair do forno, muito loirinhos e
saborosos. Uma delícia!
Empilhou quatrocentos e noventa e oito bolos numa
bandeja, diante do lugar em que o gato ia sentar-se,  e
guardou dois bolos para ele, papagaio bem-educado  e
amigo de brindar as visitas.

O gato chegou, comeu o peixe e a vitela, esvaziou  o
cesto da fruta, bebeu o chá e engoliu, um a um, os
quatrocentos e noventa e oito bolos que lhe estavam
destinados.
– Estou com fome. Não há mais nada que se coma? –
perguntou o gato, limpando os bigodes.
– Estão aqui dois bolos – respondeu o papagaio, que, de
tão admirado que ficara com o apetite do gato, nem se
lembrara de os comer.
– Venham eles! – exclamou o gatarrão.
Engoliu-os num abrir de olhos e, depois, disse:
– Ainda fiquei com mais fome. E agora?
– Agora... agora só se me comeres a mim – respondeu o
papagaio, um bocado aborrecido.
– Boa ideia – aprovou o gato.
E sem mais aquelas, glip-glip, glop-glop, tragou  o
papagaio.

Uma velhinha que os servira, ao ver isto, repreendeu-o:
– Que vergonha e que falta de respeito! Então foi comer
o seu amigo papagaio?
– E mais comia, porque continuo com fome  –
respondeu-lhe o gato. – Estou mesmo a pensar comê-la a
si...
E glip-glip, glop-glop, engoliu a velha.
Depois, desceu à rua para se estirar um bocado ao sol.
Nesse momento, ia a passar um homem com um burro
carregado de feno.
– Passa de lado, gato, porque estou com pressa e o meu
burro pode pisar-te – avisou-o o homem.
– Não é um burro que me mete medo. Já comi
quinhentos bolos, uma papagaio e uma velhota. Ainda cá

cabe um homem mais o burro...
E glip-glip, glop-glop, engoliu o homem e engoliu  o
burro.
Continuou o seu caminho, muito empertigado, até que
encontrou pela frente um cortejo real. O rei dava o braço à
rainha, atrás deles vinham os soldados e atrás dos soldados
uma quantidade de elefantes, alinhados dois a dois. Era um
cortejo histórico, muito colorido e florido. O rei, que tinha
acordado bem-disposto, vendo o gato gatarrão disse-lhe:
– Encosta-te à parede, gato, senão os meus elefantes
esmagam-te.
– Esmagar-me, a mim? Deixa-me rir. Já comi
quinhentos bolos, um papagaio, uma velhota, um homem e
um burro. Porque não hei-de comer também um
insignificante rei e toda a sua comitiva?

E glip-glip, glop-glop, engoliu o rei e a rainha, os
soldados e os elefantes. Começava a sentir um certo peso
no estômago. No entanto, prosseguiu o seu caminho,
sempre muito empertigado.
Dois caranguejos cinzentos trotavam em sentido
contrário, naquele jeito de andar de lado que não tem
emenda.
– Muda de passeio, gato – gritaram-lhe eles, de longe.
– Era o que faltava! – respondeu-lhes o gato,
enfrentando-os. – Já comi quinhentos bolos, um papagaio,
uma velhota, um homem e um burro, um rei, uma rainha,
um exército e uma manada de elefantes. Querem ver como
ainda sou capaz de comer dois caranguejos?
E não lhes deu tempo. Glip-glip, glop-glop, engoliu-os
em menos de um ai.
Assim que os caranguejos chegaram ao fim da viagem,

aram em volta e não viram nada. Estava às escuras a
barriga do gato. Mas, a pouco e pouco, foram dando conta
dos que tinham chegado antes deles. A um canto, estava o
rei muito abatido, com a coroa à banda. Nos seus braços
desmaiara a rainha. Os soldados andavam de um lado para
o outro, sem saberem o que fazer, bastante envergonhados.
Pelo seu lado, os elefantes tentavam pôr-se em ordem, em
filas de dois, mas faltava o espaço. A velhota estava  a
conversar com o velho, dono do burro, que adormecera em
pé, apesar do peso da carga. Sobre uma enorme pilha de
bolos, empoleirava-se o papagaio, de penas eriçadas.
– Mano, este sítio não nos serve – comentou um dos
caranguejos.
– Também me parece, mano – concordou o outro
caranguejo. – Vamos ver se nos safamos.
Com muita paciência e teimosia, começaram a cavar um
buraquinho na barriga do gato. As pinças deles

trabalhavam ligeiras, de modo que, em pouco tempo,
tinham aberto um buraco por onde puderam passar, de
lado. Depois deles, saíram, pé ante pé, o rei, a rainha, os
soldados, os elefantes a dois e dois, o homem e o burro, a
velha e, no fim de todos, os papagaio, com um bolo em
cada mão, os únicos que tinha guardado para o seu jantar.
Foi assim que o gato teve de passar o resto do dia a coser
o buraco que os caranguejos tinham aberto. Talvez, depois
disto, aprenda a não ser glutão.


FIM










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