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sexta-feira, 31 de agosto de 2012

História para 31.08.2012


O PATO SUBMARINO


Esta é a história do pato submarino, um pato que
queria conhecer o mundo escondido debaixo da superfície
que lhe reflectia a imagem. A história começa no dia em
que o pato deu o primeiro mergulho. Cardume de peixes
pequenos fugiam à sua frente e desapareceram nos fundos
verdes de uma gruta.
– Para onde vão eles? – perguntou o pato, mas ninguém
lhe respondeu.
Mergulhou mais vezes, muitas vezes mais. Cada vez
mais fundo, cada vez mais tempo. Conseguiu assim, depois
de muitas tentativas, fazer as vezes das rãs que saltam e
mergulham, mergulham e saltam, como se não estivessem
bem em lado nenhum. Mas o pato submarino sentia-se
melhor com a cabeça dentro de água do que fora dela.

Numa ocasião em que o pato submarino ia a mergulhar,
cruzou-se com uma truta que saltava da água. Não iam para
o mesmo lado, mas como o rio é uma rua de bons vizinhos,
ficaram os dois à conversa:
– Sempre a mesma água, sempre as mesmas algas  –
suspirava a truta. – Quem me desse asas...
O pato admirou-se:
– Parece impossível! Então a amiga truta não gosta de
nadar?
– Qual quê? Fujo do rio o mais que posso. Ando agora a
treinar-me em saltos, cada vez mais altos, cada vez mais
longe. Quer ver? – e a truta saltou, toda ligeira, por cima do
ramo de um salgueiro que se debruçava para a água.
– Bravo, bravo! – aplaudiu o pato.
– Pois hei-de conseguir muito mais. Ainda quero saltar
por cima da ponte, vai ver!
Cada um foi à sua vida. O pato voltou aos seus
mergulhos mais fundos, cada vez mais fundos... A truta

continuou nos seus saltos mais altos, cada vez mais altos...
Aqui façamos uma pausa à nossa história, para
mudarmos de sítios. Do rio passemos à margem. Está ali
um senhor de chapéu de palha, que pacientemente
desenrola uma linha e a mergulha na água. Segura com
firmeza a cana de pesca e aguarda. Que sucederá?
No fundo do rio, o pato submarino vê um bocadinho de
pão suspenso, magicamente suspenso. Aproxima-se, mas o
bocadinho de pão ou lá o que será faz-lhe uma negaça e
foge para mais longe. Atira-se a ele o pato submarino  e
abocanha-o.
Na margem, o pescador estremece dos pés ao chapéu.
– Isto não é peixe miúdo – exclama ele.

Pois não era, não! Era pato e grande... Depois de muita
luta ficou de boca aberta o senhor do chapéu de palha, ao
ver o que a linha lhe trazia. Tão espantado estava que nem
ouviu um tiro que, ali perto, caçador escondido dera sobre
algum pássaro mais descuidado.
– É extraordinário – dizia o pescador, desembaraçando o
pato do anzol. – Quando eu contar esta história, ninguém
vai acreditar...
– Acredito eu – disse uma voz, mesmo atrás dele.
Virou-se o pescador para trás e que viu? Um caçador
com uma truta na mão.
– Ia a atravessar a ponte, quando um peixe me saltou à
frente, quase a roçar o cano da espingarda. Disparei,
mesmo sem pensar – explicou ele.
– Voam os peixes, nadam os pássaros. Anda o mundo
virado do avesso – comentou o pescador.

Ficaram os dois a olhar um para o outro, sem saberem
que mais dizer, até que o pescador sugeriu:
– Podíamos trocar. Sim, porque eu sou, acima de tudo,
caçador.
– E eu, pescador – acudiu, muito despachado, o senhor
do chapéu de palha.
Aflita, a truta sacudia-se nas mãos do caçador. As
chumbadas quase não lhe tinham tocado. Também o pato
se refazia da surpresa e agitava as asas.
Caçador e pescador preparavam a troca. E foi no exacto
momento em que o pescador ia receber o peixe e o caçador,
a ave, foi nesse preciso momento que... que... adivinham?
Voou o pato e mergulhou a truta. Cada um para seu lado,
cada um mais depressa que o outro.
– Dê-lhe um tiro – gritou o pescador para o caçador.

– A qual? – perguntou ele, atarantado.
Salvaram-se os nossos heróis e salvou-se a história. O
pato voou para o alto e o peixe nadou para o fundo. Já
chegava de aventuras. Já tinham que contar. E nós,
também...


FIM







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