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domingo, 2 de setembro de 2012

História para 02.09.2012

ZÉ PEQUENO

O rapaz era o Zé Pequeno. Um besnico. Bem
proporcionado de corpo, tudo nos conformes, nenhum
defeito, algumas qualidades, gentil, formoso, mas em
ponto pequeno.
Claro que queria crescer. Na idade dele todos querem.
Dois aldrabões de feira, desses que andam de terra em
terra a vigarizar ingénuos, souberam da vontade do moço e
prometeram que o acrescentavam. Desse-lhes ele em troca
o vitelo que, à conta do pai, trazia para vender.
Acertado o negócio, os aldrabilhas taparam os olhos ao
Zé Pequeno e pôs-se um a puxá-lo pelos ombros e o outro
pelos pés. Entretanto, iam dando estalos com a língua, a

fazer de conta que eram os ossos do rapaz a dar de si.
No fim da operação, rebentaram com o chapéu de abas
largas do Zé Pequeno e enfiaram-lho até ao pescoço.

– Repare que, dantes, nos dava pela cintura e agora está
mais alto do que nós – dizia-lhe um dos vigaristas,
agachado, a fazer de conta.
– Por enquanto, não olhe para baixo que sente vertigens
– dizia o outro, de joelhos.
Foram-se embora com o vitelo, a rirem-se.
O rapazinho andou pela feira com a aba do chapéu
enfiada até ao pescoço, que parecia um babete ou uma gola
de fazer rir. À volta dele, riam-se, mas Zé Pequeno, muito
empertigado, não dava troco. Até que percebeu, afinal, que
continuava da mesma altura.

Correu, desesperadamente, atrás dos aldrabófonos. Pois
sim. Onde é que eles já iam....
Mas não desistiu. Meteu por uns atalhos, correu que nem
um danado e foi ter a uma curva da estrada, por onde
haviam passado os finórios. Quando os viu, escondeu-se e,
fazendo voz grossa pelo meio de uma cabaça, como se
fosse altifalante, vociferou:
– Parem, em nome da lei. Eu, sargento Viçoso, sargento
da Guarda Republicana, intimo-os a largarem o vitelo,
senão disparo.
Eles, que tinham a consciência pesada, aterrorizaram-se,
de mãos no ar, a tremer. Então o Zé Pequeno acertou uma
pedrada num, acertou uma pedrada no outro e fê-los provar

o pó da estrada. Com os dois homens desmaiados,
estendidos à sua mercê, o rapaz era o mais alto. Recuperou
o vitelo e voltou para a feira.
Feliz com o seu sucesso, sentia-se, subitamente, mais
crescido. E até talvez estivesse. Era mesmo muito natural
que, depois daquela aventura, tivesse dado um grande pulo.


FIM




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