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sexta-feira, 7 de setembro de 2012

História para 07.09.2012

NO CIRCO ACABOU MAIS CEDO

o circo maravilhas, uma maravilha de circo, "a
maravilha das maravilhas", como anunciava, no início de
cada novo espectáculo, o seu director artístico, no Circo
Maravilhas, dizíamos, são, no momento em que esta
história começa, sete horas da tarde.
Sabemos que são sete horas da tarde porque o director do
Circo Maravilhas acordou agora mesmo da sua prolongada
sesta. O senhor Estrelinhas é sempre pontual no acordar.
Ele bem sabe que são sete horas, mais segundo, menos
segundo. Precisamente para saber os segundos, o senhor
Estrelinha puxa, com todo o vagar, do relógio de bolso, um
formosíssimo relógio de ouro, orgulho e ornato, há mais de
cem anos, da família Estrelinhas.
– Foi o meu pai, o célebre director da companhia
circense Estrelinhas & Estrelinhas, quem mo deu  –
costuma contar o senhor Estrelinhas Filho.
Vai puxando a corrente, que também é de ouro, vai
puxando devagarinho, e, de súbito, a corrente acaba, sem
trazer nenhum relógio atrás.
– Desapareceu o meu relógio! O meu relógio sumiu-se!
Desapareceu... – grita o senhor Estrelinhas, saindo para o
terreiro defronte do Circo Maravilhas.
Aos gritos do director acorda o circo e anima-se  a
história. Saem das suas "roulottes" o homem das forças e a
mulher Labareda, também mulher do homem das forças, os
malabaristas Maldonados, a domadora Dona Arábida e o
domador Cola-tudo, a bailarina Cinturinha e o lutador
Cinturão, os trapezistas Baptistas, os palhaços Baratinha,
Barata & senhor Tomé e muito, muito mais gente. Se fosse
apresentá-los um por um, era todo o cartaz da companhia,
lido de trás para diante.
Juntaram-se à roda do director e perguntaram em coro,
ainda ensonados:
– O que é que foi?
– Perdi o relógio de ouro – gritava-lhes o senhor
Estrelinhas, de braços abertos e olhos fechados.
– Alguém o roubou – disse um dos mais ensonados.
Fez-se um grande silêncio, como se estivesse algum
trapezista à beira do salto mortal. O senhor Estrelinhas,
então, abriu os olhos e disse, muito zangado:
– Alguém roubou? Isso nunca. Nesta companhia, temos
equilibristas, trapezistas, malabaristas, contorcionistas,
antipodistas, mas não temos larapistas, isto é, larápios,
rapinantes, ratoneiros, corsários, gatunos, bargantes,
bandoleiros... Entendido?
À volta concordaram.
– Então foi bicho – lembrou uma voz.
– Talvez os macacos – alvitrou um dos Maldonados, que
não gostava de macacos.
Opôs-se à dúvida a Dona Arábica, dona dos macacos:
– Alto lá, que os meus macacos são sérios.
Toda a gente se riu.
– Talvez fosse o avestruz – sugeriu o Baptista trapezista
mais novo. – Lembra-se o senhor director de que o bicho,
uma vez, foi ao seu escritório e engoliu o tinteiro, a caneta
de tinta permanente e o mata-borrão?
– O mata-borrão era o guardanapo – riu-se o palhaço
Baratinha.
Foi ele o único a rir, porque os outros tinham ido
encostar o ouvido ao estômago do avestruz. Não
conseguiram ouvir nenhum "tique-taque". Falsa pista.
– Procurem na bolsa do canguru – exclamou a bailarina
Cinturinha, num pressentimento.
Foram a correr procurar à bolsa do canguru, mas só lá
encontraram um carimbo, os óculos de sol da bailarina
Cinturinha, uma lata de conservas vazia e alguns bilhetes
amachucados. Quanto ao relógio, nada.
Só se desfez o mistério a meio do número de Dom Fuas,
ilusionista, de gestos de seda e monóculo faiscante. No
preciso, precioso momento em que D. Fuas, de um baú há
pouco vazio, desocupado, fazia sair o urso Osvaldo,  a
esfregar as patas uma na outra, a modos que a pedir
palmas, calculem a surpresa. É que, desta vez, o urso
Osvaldo trazia um formoso relógio de bolso, entalado num
olho. Caiu, da surpresa, o monóculo ao Dom Fuas e o urso
Osvaldo, vaidoso, continuou a pedir palmas.
– É o relógio do director! – gritaram vários artistas.
Nessa noite, o espectáculo acabou mais cedo.


FIM

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