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quarta-feira, 5 de setembro de 2012

História para 95.08.2012


DUAS HISTÓRIAS


Eu estava na esplanada da praia a escrever uma
história. Nada de especial. Era uma história que metia uma
boneca, uma mona feita de trapos, com quem já ninguém
brincava.
Esquecida a um canto de uma casa há muito desabitada,
a mona devia ter saudades do tempo em que era
acarinhada por uma menina, a sua dona de outrora. Há
quanto tempo... A menina devia ser, agora, uma velhinha.
Nem a boneca conseguia sequer recordar-se do rosto
dessa menina. Nunca mais tinham sabido uma da outra.
A verdade é que estava só. Vontade de brincar não lhe
faltava, mas com quem?

Neste ponto da minha história, eu hesitei. Pedi outro café
ao criado e olhei em volta. Na praia, muitos banhistas, mas
na esplanada só eu e, numa mesa perto, uma jovem
senhora a tricotar.
Foi então que me surgiu uma ideia para continuar  a
minha história. Pus-me logo a escrever.
A boneca solitária, feita de trapos, decidiu fabricar uma
boneca igual a ela. Com que materiais? Com os seus
próprios trapos. Ficaria mais magra, mais pequena, mas
juntaria a ela uma companheira.
Por sinal que, na casa desabitada, uma máquina de
costura meio ferrugenta, mas ainda prestimosa, ofereceu os
seus serviços.

– Mãos à obra – exclamou a boneca de trapos,
entusiasmada.
Descoseu-se, esventrou-se, cortou, coseu, encheu e uma
bonequinha parecida com ela começou a ganhar forma. Era
um mona trangalhadanças, mas ia ser uma óptima
companheira.
A bonequinha ganhou forma, ganhou vida e eu estava
quase no fim da minha história. Imaginei as duas bonecas
a brincar uma com a outra, na tal casa desabitada, afinal
habitada pela alegria.
Era uma história simples. Histórias destas não custam
nada e sabem bem, como um café com açúcar, bebido
numa esplanada da praia.

Na mesa perto da minha, a jovem senhora que tricotava
também tinha completado a sua tarefa. Era um casaquinho
de bebé.
A jovem senhora apreciou, ternamente, a sua obra.

Pareceu-me até que sorriu para o casaquinho. Não sei se já
disse que a senhora ostentava um evidente volume de
corpo de quem espera bebé, para breve...
E aqui têm como, numa só história, cabem duas
histórias. Ou muitas...


FIM






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