Composições Líricas Mágicas e Religiosas: Ensalmos

Em primeiro lugar, a pessoa, que vai rezar, faz o sinal da Cruz e coloca quatro
pauzinhos a arder na lareira. Depois, benze-se, pega no primeiro pauzinho a arder e diz:
Bicho, bichão,
Aranha ou aranhão,
Sapo, sapão,
Cobra ou cobrão,
Ó bicho de qualquer nação,
Eu te corto.
Em loubor da Birgem Maria,
Um Padre-Nnosso e uma Santa Maria.
Em loubor de São Silibestre,
Eu te corto,
Que seja o Senhor Jesus Cristo, o berdadeiro mestre.
De seguida, reza-se uma Ave-Maria, um Pai-Nosso e uma Santa Maria com os
outros três pauzinhos; com o pauzinho restante, tenta-se aproximá-lo o mais perto
possível do local do corpo onde se encontra o coxo, deitando-o, por fim, à lareira.
Esta reza deve ser feita três vezes e, se a pessoa se enganar, é sinal de que
acertou na hora em que o paciente apanhou o coxo.
Maria Mesquita, 52 anos, Morgade

Para curar a zipela ou zimpela e o zipelão
Jesus, nome de Jesus,
Pedro Paulo foi a Roma,
E a Birgem Maria encontrou,
Ele proguntou:
- Pedro Paulo, que bai pro lá?
- Morre muita gente. Doenças e pela má.
- Pedro Paulo, torna lá!
Dá-le com sal do mar, água da fonte e azeite birge.
Por poder Deus e da Birgem Maria,
Qu’ela me ensinou,
Qu’eu nada sabia.
José, que é isto? Tanto te dói, tanto te põe.
Eu te talho este reborado,
Este mau-olhado,
C’o ramo de olibeira honrado,
Birado p’r’ó nascente,
Qu’este mal bá embora.
Ámen p’ra todo o sempre.
Nota: Nesta reza, utiliza-se um ramo de loureiro, três gotas de água, três de azeite
virgem e três pedrinhas de sal, e é dita três vezes durante três dias, deitando-se, no final
de cada sessão, todos os ingredientes usados ao lume.
No caso do zipelão, é obrigatório que participe um homem e uma mulher no
ritual.
Maria da Silva, 83 anos, Morgade

Para talhar as bichas
Bichas, bichais,
Malditas sejais!
Dentre três dias
Delidas sejais.
Lombrigas,
Curtas e compridas,
Inde comer p’r’ó monte,
E bober p’rá fonte,
Que no corpo do Zé não tendes que fazer mais.
Eu te talho de nobe oito,
De oito sete,
De sete seis,
De seis cinco,
De cinco quatro,
De quatro três,
De três duas,
De duas uma.
Cortarei a todas,
Não ficará nenhuma.
Nota: Esta reza é feita com uma faca em cruz e proferida três vezes, num período de
três dias consecutivos. No fim de cada reza, passa-se a faca pelo lume.
Maria da Silva, 83 anos, Morgade

Para curar o bichoco
Bicho massalo,
Comedor e roedor e saltador,
Que faremos ao bichoco?
Talharemos com sal do mar, água da fonte
E azeite birge e rosas do monte
E a birge de fonte.
Nem mais comerá, nem mais boberá,
Juntará os pés com a cabeça, logo sossegará.
Em loubor de São Silibestre,
Tudo o que t’eu faço, tudo te preste.
E nosso Senhor Jesus Cristo seja o berdadeiro Mestre.
Nota: Além da reza, que também se diz três vezes, num período de três dias, mistura-se
num prato três gotas de água, três de azeite virgem e três pedrinhas de sal.
Posteriormente, molha-se um ramo de hortelã num prato e passa-se no estômago da
criança. No terminus de cada reza, deita-se tudo ao lume.
Maria da Silva, 83 anos, Morgade

Para curar a ciética
Faca que cortas o pão e à carne,
Corta-me esta ciética e cietão.
Eu te corto a ciética em nome do Pai,
Eu te corto a ciética em nome do Filho,
Eu te corto a ciética em nome do Espírito Santo.
Assim como Deus em linho foi amortalhado,
Este corpo deste nosso irmão, eu quero sarar.
Com poder de Deus e da Birgem Maria,
Um Padre-Nosso com uma Abe-Maria.
Nosso Senhor te ponha a bertude. Ámen.
Nota: Cura-se com uma faca, fazendo-se uma cruz e rezando-se três vezes, em três dias.
A pessoa que efectua a reza não pode estar em jejum.
Maria da Silva, 83 anos, Morgade



Para curar o pulso aberto ou pé
Senhor, assim como me sarastes da minha paridura,
Deus nosso Senhor sare este nosso irmão da sua abertura.
Senhor, assim como sarastes da minha paridura,
Assim sares este nosso irmão da sua abertura.
C’o poder de Deus e da Birgem Maria,
Um Padre-Nosso e uma Abe-Maria.
E Deus nosso Senhor te ponha a bertude. Ámen.
Nota: A reza tem de ser executada por uma pessoa que tenha filhos gémeos, que deve
colocar o seu pé na parte dorida do corpo do paciente.

Maria da Silva, 83 anos,Morgade