Mensagem de Meijinhos

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domingo, 14 de outubro de 2012

Tradições

Reza para Cortar o Coxo
Para que se possa fazer esta reza, é necessário que a pessoa que a vai fazer já tenha morto, pelo menos uma vez, uma toupeira com as mãos, com nove pancadas na cabeça. Esta reza tem que ser feita nove vezes, enquanto se traça uma cruz sobre o coxo:
Jesus, santo nome de Jesus.
Credo em cruz.
P’ra tudo o apliquei,
Sapo, sapão, cobra, cobralhão,
Bicho de toda a nação.
Corto-te o rabo, corto-te a cabeça,
Pelo poder de Deus e da Virgem Maria,
Nunca este mal entraria em...........
Pelo poder de Deus e da Virgem Maria,
Apelo para o Senhor São Tiago.
Assim como vem o bem e o amor,
Pelas cinco chagas de Deus Nosso Senhor. Amen.
(Reza-se um Pai Nosso, uma Avé Maria e uma Salvé Rainha)
Reza de Cortar a Ciática
A ciática é uma dor localizada no nervo mais grosso do nosso organismo que pode ser curada através da seguinte reza:
Jesus, santo nome de Jesus.
Credo em cruz. (3 vezes)
Ciática corto, ciática atalho.
Assim como este mal não come,
Nem roía, nem comia, no corpo de.......
Assim como vem o bem e o amor.
Pelas cinco chagas de Deus Nosso Senhor. Amen.
(Pai Nosso, Avé Maria e Salvé Rainha).
Reza para Cortar a Névoa da Vista
A névoa é uma mancha que surge na córnea e que provoca uma visão turva. Para curar este mal, os mais antigos fazem a seguinte reza:
Jesus, santo nome de Jesus.
Credo em cruz. (3 vezes)
Nossa Senhora pelo mar ia,
Três novelinhos de oiro tinha.
Acontecia que outra névoa,
Desaparecia em.......
Assim como vem o bem e o amor.
Pelas cinco chagas de Deus Nosso Senhor. Amen
(Pai Nosso, Avé Maria e Salvé Rainha).
Reza para Cortar a Inveja
Jesus, santo nome de Jesus.
Credo em cruz. (3 vezes)
Casa varrida, saco molhado,
Vai-te daqui inveja e mau olhado.
Pelo poder de Deus e da Virgem Maria,
No corpo de........, este mal entraria.
Apelo p’ró Senhor São Tiago.
Assim como vem o bem e o amor.
Jesus Cristo Nosso Senhor. Amen.
(Pai Nosso, Avé Maria e Salvé Rainha).
Reza para Cortar o Medo
Esta oração é proferida nove vezes, ao toque das Três Trindades. Infelizmente, esta tradição já caiu em desuso nesta freguesia.
Jesus, santo nome de Jesus.
Credo em cruz. (3 vezes)
Medo vai-te daqui,
Que anda a Santíssima Trindade
Atrás de ti.
(Pai Nosso, Avé Maria e Salvé Rainha).
Reza para Cortar o Unheiro
O unheiro é uma inflamação que surge na zona entre o dedo e a unha, devendo fazer-se a seguinte reza para o curar:
Jesus, santo nome de Jesus.
Credo em cruz. (3 vezes)
- Maria, que tens? — Unheiro.
- Unheiro corto a Maria,
Borbulhas e borbulhões,
Que se esmiucem como carvões.
Pelo poder de Deus e da Virgem Maria.
Apelo p’ró Senhor São Pedro, São Paulo,
São Tiago e São Silvestre.
Tudo isto que faço me preste.
Assim como veio o bem e o amor.
Pelas cinco chagas de Deus Nosso Senhor. Amen.
(Pai Nosso, Avé Maria e Salvé Rainha).
Reza para Cortar o Sol
Esta reza, de tradição muito antiga, serve para curar as insolações. Coloca-se um guardanapo rendado na cabeça do paciente e deita-se-lhe um copo de água. Reza-se nove vezes esta oração:
Deus deu o Sol,
Deus deu a Lua,
Deus tire o mal desta criatura.
São Clemente no mundo andou,
O sol e a lua talhou.
Com que o talharia?
Com um pano de olhos e água fria.
(Pai Nosso e Avé Maria).
Dadas
As dadas servem para curar as dores de cabeça: colocam-se videiras ao lume e, depois de arderem, pega-se nas brasas com as mãos e deitam-se numa vasilha com água, à medida que se vai rezando. Esta oração é rezada nove vezes:
Jesus, santo nome de Jesus.
Credo em cruz. (3 vezes)
Deus te fez, Deus te criou,
Deus te desacanhe do mal que te acanhou.
(Pai Nosso, Avé Maria e Salvé Rainha).
Salapismos
Os salapismos eram cataplasmas feitas com papas de linhaça que, por sua vez, eram feitas a partir de linhaça fervida com malvas e mostarda em pó. Estas cataplasmas eram colocadas no peito do doente, em casos de gripe, ou na face, em casos de dores de dentes. Os salapismos aí ficavam até secarem e curarem.
Cortar o Coxo das Toupeiras
Deve-se lavar o coxo com vinho quente e atar-lhe, de seguida, um naco de carne gorda de porco, com um pano preto.
Estancar o Sangue
De acordo com os mais idosos, antigamente estancava-se o sangue com teias de aranha ou com “ervas dos golpes” pisadas.
Águas Medicinais
Em Covas do Barroso, acredita-se no poder que certas águas santas e mineralizadas têm para curar uma grande diversidade de doenças. Nos arredores da aldeia, existe uma nascente de água que possui enxofre, o que leva estas gentes a pensar que essa água cura o reumatismo e as doenças de pele.
Palhas-Alha
As palhas-alha são as folhas secas dos alhos que podem, segundo a tradição popular, ser usadas para curar o coxo (o coxo é uma erupção cutânea, atribuída à passagem de animais venenosos pela roupa no estendedouro).
Para terem este poder curativo, as palhas-alha são queimadas e à sua cinza junta-se o azeite, com o intuito de formar uma espécie de creme. Passa-se depois no lugar onde o coxo apareceu, durante o período de tempo que for necessário para o seu desaparecimento.
Reza para Fazer o Pão
Depois de amassar o pão, faz-se uma cruz na massa e reza-se uma das seguintes orações:
Crescente levente,
São Vicente te levede,
E São João faça bom pão.
São Crescente, São Crescente,
Santa Isabel te levede,
São Crescente te acrescente.
São Crescente te levede,
Deus te dê a virtude,
Que eu da minha parte
Fiz o que pude.
Depois de se ter colocado o pão no forno, faz-se uma cruz sobre este e reza-se a seguinte oração:
Cresça o pão no forno,
Saúde a seu dono,
Paz em intenção pelo mundo todo.
Pai Nosso e Avé Maria pelas almas.

A literatura popular transmontana é riquíssima e, no que concerne a esta freguesia, são várias as lendas que foram sendo contadas, oralmente, às gerações mais novas, perpetuando histórias que marcaram a vida das gentes de Covas do Barroso. Destas lendas, destacam-se as que dizem respeito à padroeira da freguesia e à bruxaria no Castro do Poio.
Lenda da Padroeira da Freguesia
Antigamente, quando a padroeira ainda se encontrava na sua mísula, as crianças contavam uma lenda sobre ela. A Senhora trazia o Menino Jesus ao colo e este tinha, debaixo do braço, uma bola que representava o mundo. As crianças acreditavam que, quando a bola caísse, seria o fim do mundo, daí que tivessem adquirido o hábito de se ajoelharem e rezarem, sempre que passavam pela Igreja, na ida para a escola, para que tal não acontecesse.
Lenda da Bruxaria no Castro do Poio
Conta a lenda que, há muito tempo, se fazia bruxaria no Castro do Poio. Diz-se que as pessoas que a faziam se punham dentro da terceira muralha do castro, à meia-noite, com o Livro de São Cipriano, invocando o diabo. Este não podia entrar no Castro e era obrigado a obedecer às ordens delas.

Ao longo do ano, há determinadas épocas que são vividas com maior intensidade pelos simpáticos habitantes de Covas do Barroso, dando-se especial relevância às Colheitas, à Desfolhada, à Matança do Porco, ao Carolo, às Endoenças, à Via-Sacra, à Serrada da Velha e ao Entrudo.
Festa das Colheitas
A Festa das Colheitas era uma das tradições mais marcantes da freguesia, mas, infelizmente, há mais de quinze anos que não se realiza.
No Domingo de São Miguel, os habitantes organizavam-se por bairros e ofereciam alguns dos produtos agrícolas que tinham em casa. Carregavam-se, então, os carros de bois que eram levados, posteriormente, para o Cruzeiro, local onde se juntava todo o cortejo e onde se procedia ao leilão das ofertas. O dinheiro obtido com o leilão revertia a favor da Igreja, para que esta pudesse fazer melhoramentos.
Desfolhada
Quando, na época do São Miguel, o milho está seco, procede-se ao seu corte, sendo, depois, transportado para a eira. À noite, é costume o dono ir chamar gente para vir ajudar na desfolhada. Juntam-se, então, todos em redor do milho e a desfolhada começa.
Antigamente, havia cantares tradicionais para esta actividade, mas, nos dias de hoje, os intervenientes limitam-se a discutir variados assuntos relacionados com a vida da aldeia.
Durante a desfolhada, é habitual o dono dar vinho, aguardente e castanhas assadas (bilhós) às pessoas que vinham ajudar. No final, as espigas são transportadas em cestos para os típicos canastros.
Em tempos idos, os mais jovens gostavam bastante de participar nas desfolhadas. Este gosto devia-se ao facto de, no meio das espigas de milho branco ou amarelo, aparecerem algumas de cor vermelha (milho-rei). Quando aparecia um exemplar de milho-rei, o rapaz ou a rapariga que o encontrassem tinham o direito de beijar todas as raparigas ou rapazes presentes. Era, muitas vezes, nas desfolhadas que alguns casais iniciavam o namoro.
Matança do Porco
Os preparativos da Matança do Porco começam na véspera: não se dá de comer aos porcos que vão ser mortos no dia seguinte, afiam-se as facas, preparam-se os alguidares de barro, as carquejas e a palha.
No dia marcado para esta actividade, as mulheres da casa levantam-se de madrugada para colocarem os potes ao lume, destacando-se o facto de cada um desses potes levar, aproximadamente, quinze litros de água. Depois, chega o matador. Os homens matam o “bicho” com pão, rabanadas, figos secos e aguardente. Depois de terem ganho energias, os homens agarram o porco e deitam-no sobre o banco, para que o matador o possa sangrar. As mulheres, por sua vez, seguram no alguidar com o sangue. Seguidamente, chamuscam-se os porcos com carquejas e palha, utilizando as facas e pedras ásperas  para lhe raspar a pele. Posteriormente, lavam bem o porco, abrem-no e tiram-lhe as entranhas.
Entretanto, na cozinha, coze-se o sangue que os homens irão saborear com cebola, azeite, pão e vinho.
Depois destes procedimentos, os porcos são pendurados numa trave da despensa.
Durante a tarde, as mulheres lavam as tripas no rio e viram-nas do avesso, com a ajuda de uma roca. As tripas são, posteriormente, temperadas com sal, para que possam ser feitos os tradicionais enchidos.
No dia seguinte, ocorre a desmancha, que consiste em cortar o porco em pedaços, lançando-os, depois, na salgadeira, onde permanecem submersos em sal.
Festa do Carolo
Na freguesia de Covas do Barroso, existe uma festa dedicada às almas, na qual se procede à distribuição do pão e do vinho pelos presentes, sejam eles ricos ou pobres. Trata-se da Festa do Carolo, que se realiza no dia 14 de Junho, ou seja, no dia seguinte à celebração do Santo António.
Nesta festa, é costume o povo dar milho, vinho, centeio e dinheiro. O milho é, depois, vendido e, com o dinheiro obtido, compra-se mais centeio. É habitual, um dos bairros da aldeia ficar encarregado de moer o centeio e cozer o pão no forno do povo.
No dia 14, é rezada a missa pelas almas, no final da qual o padre benze o pão e o vinho que serão, depois, distribuídos pelas pessoas presentes. Terminada a distribuição, é tocado o sino e todas as pessoas rezam, em silêncio, pelas almas dos que já partiram deste mundo.
É, igualmente, costume da freguesia, no final dos enterros, fazer uma distribuição de pão e de vinho pelas pessoas que assistiram à missa de corpo presente. 
Via Sacra
Na Sexta-Feira Santa, faz parte da tradição o povo de Covas do Barroso seguir o Caminho de Cristo ao Calvário através da Via Sacra, ao longo de quinze cruzes que se encontram espalhadas desde a Igreja até um pinhal próximo. Em cada cruz, é lida, pelos jovens da aldeia, uma das estações da Via Sacra.
Endoenças
As Endoenças celebraram-se pela última vez, nesta freguesia do concelho de Boticas, no ano de 1940.
As Endoenças celebravam-se na Quinta e na Sexta-Feiras Santas, sendo habitual que, nesses dois dias, a Igreja ficasse coberta de cortinas vermelhas e azuis. Destacava-se, igualmente, uma banda musical, doze padres e um orador.
Durante a cerimónia, apareciam, envoltas pelas cortinas, as imagens do Senhor do Horto, do Senhor da “Cana Verde”, do Senhor “da Cruz às Costas” e de Nossa Senhora, conforme o que era ordenado do púlpito pelo orador. Sobressaíam, também, doze velas que iam sendo apagadas à medida que iam aparecendo as imagens. No final, realizava-se uma procissão em volta da Igreja, com a imagem de Nossa Senhora.
Devido às grandes despesas que esta festa implicava, realizava-se, apenas, de dois em dois anos e, mais tarde, veio mesmo a extinguir-se.
A cerimónia das Endoenças teve origem no IV Concílio Nacional de Toledo, realizado em 633. Foi, então, determinado que, na Sexta-Feira Santa, o povo se reunisse nas igrejas para assistir ao Ofício Divino e que todos em volta pedissem indulgência pelos seus pecados, a fim de poderem comungar dignamente, no Domingo da Ressurreição. Mais tarde, as Endoenças passaram a designar o conjunto de cerimónias que se realizavam nesse dia.
Carro do Galo
O Carro do Galo é uma tradição com mais de um século que visa celebrar a figura do professor da aldeia. Assim, todos os anos, no Domingo Gordo, sai à rua um carro semelhante ao dos bois, mas ligeiramente mais pequeno. Este carro leva ofertas dos alunos que, de acordo com a tradição, devem ser compostas por um coelho, uma galinha, vinho, doces e um galo.
Actualmente, como existem na aldeia vários professores, são feitos vários carros e, previamente, realiza-se um peditório junto dos pais das crianças, para que se possa proceder à compra das oferendas.
Em tempos idos, só as crianças e os professores seguiam os carros e, em certas casas, dava-se de comer aos miúdos, quando estes passavam por lá.
Nos dias de hoje, para além da criançada e dos professores, os pais, os avós, os irmãos e outras pessoas também podem participar no cortejo.
Serrada da Velha
Diz a tradição que, numa noite de Quarta-Feira de Quaresma, os rapazes da aldeia roubam um carro de bois, colocam-se em cima dele e levam-no até à povoação, fazendo-o chiar. É costume levarem um cortiço e, quando chegam perto das casas das mulheres que já são avós, começam a serrá-lo e a gritar em diversas vozes:
- “Ai, minha velhinha, que tanta codinha me deste!”.
Entrudo
No dia do Entrudo, era tradicional representar-se um teatro, cujo enredo constava do seguinte: o Entrudo rouba couves da horta da Quaresma; esta mata-o e acaba por ser julgada pelo crime hediondo; no tribunal, são criticadas as acções cometidas por ambos, na presença dos juízes, advogados e testemunhas; a Quaresma defende-se, dizendo que o Entrudo era “ladrão e um lambão”; a sentença acaba por ser proferida e a Quaresma é condenada a sete semanas de duração.
Os Motes
Durante cerca de seis meses, os rapazes da aldeia escreviam quadras às raparigas. Um animal morria na aldeia e, através das quadras, era dividido, simbolicamente, pelas raparigas. Assim, criticava-se um aspecto físico ou moral de cada uma delas. Tradicionalmente, eram lidos na Terça-Feira de Cinzas ou no Domingo Gordo.
Actualmente, as raparigas também fazem motes aos rapazes. Em 1993, no Domingo Gordo, depois de terem desfilado com a vaca, feita de papel, que ia ser, depois, dividida, as raparigas leram os seguintes motes aos rapazes de Covas do Barroso.
Pedimos a vossa atenção
Para o que vamos contar:
Os compadres mataram uma vaca
Para de carne se poderem fartar.
Andava o pobre animal
No lameiro a pastar,
Quando eles se lembraram
De a vida lhe tirar.
Depois de ela estar morta,
Começou a discussão:
Uns queriam-na levar toda,
Outros diziam que não.
Por fim chegou o marchante,
Que pôs termo à questão
Dizendo: - Sou eu quem parto
E faço a divisão.
Ficou tudo em silêncio,
Para ver o que saía.
- Ninguém há-de ficar mal -
O marchante assim dizia.
I. O Paulo do Treze,
Por ser novo na função,
Ia pegar nos rins
Mas deram-lhe um empurrão.
II. O Agostinho do Castro,
Por ser muito envergonhado,
Diz que não queria que o vissem
Pegar na caroca do rabo.
III. Então o irmão Bino
Disse logo muito lampeiro:
- Eu cá não tenho vergonha
de ir buscar carne ao cruzeiro.
IV. O Domingos da Costa
Julga-se um rapaz bonito,
Levou a gola da vaca
Para fazer um apito.
V. O António Manuel da Costa
De alcunha, o Pepino
Com tanta fome que tinha
Agarrou-se ao intestino.
VI. O Guilherme da Cerdeda
Para seu grande castigo,
Mesmo a tremer-lhe as pernas
Fugiu logo com o umbigo.
VII. O Jaime do Bento
Por ter prosa no andar
Levou o mijo da vaca
Por ter bom paladar
VIII. O Arménio da Dozinda
Por ser muito iludido,
Levou a madre da vaca
Para ficar mais bem servido.
IX. Diz então o irmão Carlos
Quase a gozar o parceiro:
- Eu cá não ando às migalhas
Levo o soventre inteiro.
X. O Fernando do Vicente,
Disse com irritação:
O meu bocado escolho-o eu
Porque sou o patrão.
Por fim não foi muito longe,
Nem usou de muita manha
Levou as patas de trás
Para correr para a ordenha.
XI. O João Carlos do Pôdancio
Torceu a cabeça para o lado,
Assim que viu tanta carne
Caiu logo desmaiado.
XII. O Alfredo do Bento
Por ter a idade avançada,
Levou a passarinha da vaca
Por ser a melhor talhada.
XIII. O Carlos do Alíbio
De tanto pensar ficou careca,
Por fim levou as canelas
Para fazer uma rebeca.
XIV. O Aníbal da Carolina,
Por ser de cor amarela,
Demos-lhe o sangue da vaca
Para fazer uma cabidela.
XV. O Pedro do Jaco,
Por ser um bom estudante
Levou o pescoço da vaca
Por ser o mais importante.
XVI. O seu irmão Zé Miguel
Por ser cheio de treta
Levou a bexiga da vaca
Para fazer uma pandeireta.
XVII. O Jaime do Pena
Por ter o sono pesado,
Ia ficando sem nada
Porque chegou atrasado.
Olhou para todos os lados
E em todos os sentidos,
Só já apanhou os ossos
Por ficarem esquecidos.
XVIII. O Zé do Buraco
Por vir lá da capital,
Levou para o seu quartel
As tetas do animal.
XIX. O irmão Francisco
Por andar muito à geada
Pegou nos lombelos da vaca
Para comer de madrugada.
XX. O Zé Carlos do Felício
Por ser muito calado
Damos-lhe a língua da vaca
Para ficar mais espevitado.
XXI. Então o Valdemar
Por ser muito lavadinho,
Encheu-se de remexer
Para se agarrar ao focinho.
XXII. O Carlos do Vigário
Por nunca na função ter entrado
Levou o peito da vaca
Para ficar bem avezado.
XXIII. O João da Profetina
Por ser um bom carpinteiro,
Levou o unto da vaca
Para gastar pouco dinheiro.
XXIV. O seu irmão Fernando
Por ser muito repentino,
Levou a cabeça inteira
Para ficar com mais tino.
XXV. E diz então o António:
- Eu cá não fico calado,
Não saio daqui p’ra fora
Se não me deres um bocado.
XXVI. O Zé da Helena
Por ser o mais barrigudo,
Levou o bucho da vaca
Para comer no dia de Entrudo.
XXVII. O irmão Alexandre
Por ser um bocado zaralho,
Levou as tripas de rastos
Para não estar com mais trabalho.
XXVIII. O Armando da Aida
Por ser como o bacalhau,
Levou o fígado da vaca
Para fazer o seu minguau.
XXIX. O Domingos da Currais
Cá p’ra nós só tem garganta,
Levou um bocado do lombo
Para comer mais a Branca.
XXX. O Fernando da Fonte
Por ser um bom presidente,
Correu logo ao cruzeiro
Mandar calar toda a gente.
Mas de irritado que estava
Começou logo no gozo:
- Eu quero a vaca toda
P’ra ter o voto do povo.
XXXI. O Paulo do Revisor
Por ser branco como o papel,
Levou os sessenta folhos
Para fazer um farnel.
XXXII. O João do Reguengo
Por andar perdido de amor,
Damos-lhe o coração
Para suportar melhor a dor.
XXXIII. O Manuel Pequeno
Por ter respiração fraca,
Para melhor resistir
Damos-lhe os pulmões da vaca.
XXXIV. O Zé Manuel do Americano
Por ser de corpo direito,
Disse que queria os dentes
Porque lhe faziam jeito.
XXXV. O João da Sapata
Por ser duro como o zinco,
Leva as orelhas da vaca
Para pendurar o brinco.
XXXVI. O Manuel da Rita
Por ser muito preguiçoso,
Levou os queixos da vaca
Para ficar mais corgidoso.
XXXVII. O seu irmão Carlos
Até lhe suava a testa,
Fugiu com as costelas
Para comer na floresta.
XXXVIII. Veio então o Fernando
Com o seu andar escangalhado,
Não viu mais a que se agarrar
Levou as sedas do rabo.
Ainda havia mais coisas para dar
Mas para mostrar educação
Não quisemos abusar
Ficam para outra ocasião.
Pedimos muita desculpa,
E se alguém ficou ofendido
Para outra vez será
O primeiro a ser servido.
Tudo o que fizemos
Não foi para magoar,
Apenas para a tradição
Não deixarmos acabar.
Agora que está no fim
E que tudo acabou.
Nós é que não divertimos
Coitado de quem pagou.

Os Reis
Na noite de 5 de Janeiro, era habitual os jovens da aldeia juntarem-se para pedir os Reis. Quando chegavam à casa dos restantes habitantes, começavam a cantar os Reis e os donos da casa davam-lhes chouriças, ovos, salpicões e dinheiro. No final, com a comida que conseguissem recolher, faziam uma festa a que chamavam “A função dos Reis”. Com o dinheiro obtido, os jovens mandavam rezar três missas aos três Reis Magos, por intenção das almas do purgatório.
Os Três Reis do Oriente,
Já marchavam p’ra Belém,
Para ver o Deus menino
Que Nossa Senhora tem.
Ó que pinheiro tão alto,
À porta veio nascer,
À porta desta senhora
Para nos dar de beber.
Para nos dar de beber
Quatro ou cinco ou seis.
Venha-nos abrir a porta,
Venha-nos dar os reis.
Quer nos dê, quer nos não dê
Estejam todos reunidos.
Oxalá daqui a um ano,
Estejamos todos vivos.
Se nos quiser dar os reis
Não nos esteja a demorar.
Nós somos de muito longe
Temos muito para andar.
Se nos quiser dar os reis
Não os mande pela criada,
Que ela tem a mão pequena,
Dá-nos pequena talhada.
Quando o dono da casa não lhes dava nada, no dia seguinte, voltavam lá para lhos descantar:
Os reis que ontem aqui cantamos,
Vimos hoje descantar.
Este barba de farelos
Não teve nada que nos dar.
Casamentos
Em tempos idos, os casamentos eram celebrados na freguesia de uma forma especial, tal como refere Pinho Leal, na célebre obra Portugal Antigo e Moderno:
“São curiosíssimos, pela antiguidade que revelam, os casamentos n’esta freguezia. Na manhan das bodas, vem o noivo com os seus à habitação da noiva, onde estão reunidos os parentes d’ella. Bate à porta várias vezes, até que os de dentro parlamenteiam, perguntando: - Quem é, o que quer? Responde o noivo: É F... que aqui vem buscar honra, gente e fazenda.
- Entre, que tudo encontrará.
Então as raparigas offerecem à noiva flores e doces de várias qualidades. Os noivos acceitam. Provam os doces, que depois são comidos pelos padrinhos e pelos convidados. Isto tudo acompanhado com versos mais ou menos mancos, coxos e insipidos. Antigamente as raparigas offereciam à noiva uma pomba, e a noiva, quando se abria a porta ao seu futuro, lhe atava uma fita à cinta. Hoje são dispensadas estas duas formalidades”.

As tradições de um povo sobressaem, também, através das suas festas religiosas. No que concerne a esta freguesia, realizam-se festas em honra de Nossa Senhora da Saúde, Santo António, São João e São José.
Nossa Senhora da Saúde
A festa em honra de Nossa Senhora da Saúde realiza-se no primeiro Domingo de Junho.
Esta festividade teve origem numa promessa feita pelo povo à Santa, uma vez que uma febre muito grave estava a semear a morte em grande parte da população da aldeia. Os habitantes decidiram, então, prometer que, caso a Senhora da Saúde os curasse daquela febre, lhe dedicariam uma festa, todos os anos.
Esta festa é, habitualmente, abrilhantada por um conjunto musical e por uma banda, sendo, igualmente tradicionais a eucaristia e a procissão, com cinco andores e respectivos figurantes (crianças da aldeia).
Na noite de Sábado, é costume realizar-se uma procissão, da Capela até à Igreja, com o andor da Senhora do Rosário. Trata-se da procissão das velas.
Santo António
Santo António, que para muita gente é o santo casamenteiro por excelência, tem para os habitantes de Covas do Barroso um significado especial, já que é considerado o patrono dos animais. Assim, o povo desta freguesia, no dia 13 de Junho, faz uma festa em sua honra, com o intuito de que ele proteja os animais, uma vez que a pecuária continua a ser uma das principais actividades económicas da aldeia.
Em tempos idos, fazia parte da tradição alguém oferecer, todos os anos, um leitão ao santo. Esse animal dormia, depois, em qualquer lugar e ia à casa das pessoas para ser alimentado. No final do ano, era vendido num animado leilão e o dinheiro obtido com a sua venda revertia a favor da festa de Santo António.
São prometidos, ainda hoje, a Santo António coelhos, leitões, carne de porco (orelheiras, pé de porco...), ovos e galinhas, sempre com a intenção de pedir ao santo protecção para os animais. Estas ofertas são leiloadas num dos cruzeiros da aldeia, no Domingo, depois da missa.
É tradicional oferecer-se o carolo (distribuição de pão e vinho) a todas as pessoas que se encontram no local da festa.
São João
Na noite de São João, é costume da freguesia os rapazes roubarem vasos de flores e colocarem-nos no telhado do Forno do Povo, onde, no dia seguinte, os donos têm de ir buscá-los.
No entanto, a juventude entretém-se a pregar outro tipo de partidas, tais como: roubar carros de bois e trancar as ruas com os mesmos.
São José
A romaria em honra de São José tem lugar na povoação de Romainho, no dia 19 de Março (Dia do Pai). Mas, a população desta localidade venera este santo enquanto patrono dos trabalhadores.
Festa das Crianças
Num Domingo do mês de Julho, em data marcada, previamente, pelo pároco de Covas do Barroso, as crianças fazem a sua Primeira Comunhão ou a Comunhão Solene. Essa celebração, de grande importância para os mais novos, ocorre por volta das onze da manhã. À tarde, o pároco, os catequistas, as crianças e os pais reúnem-se junto à acolhedora e refrescante sombra de uns carvalhos, que se situam perto da aldeia, e fazem um piquenique.

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