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quinta-feira, 11 de outubro de 2012

História para 11.10.2012

O BOI MANSO
O boi regressava do trabalho, ao entardecer. Vinha muito
cansado. Por caminhos torcidos e pedregosos puxara, o dia
todo, um carro de bois, que, bem vistas as coisas, devia
antes chamar-se carro de boi, porque ele, sozinho, fazia as
vezes de uma junta de bois, dos mais possantes.
Estava mesmo exausto. A caminho do estábulo, já
apaladava, na imaginação, a saborosa ceia de feno, que o
aguardava na manjedoira. Merecida.
Entrou no estábulo e o que viu? O cão da quinta,
deitado no fofo do feno.
– Tenha muito boas noites – disse o boi, que era muito
manso e bem-educado. – Podia fazer o favor de sair de
cima da minha manjedoira?
– Não. Não - ladrou o cão.
O boi, cheio de paciência, insistiu:
– Estou com muita fome, mas prometo-lhe que, depois
de comer, ainda lhe deixo feno suficiente para a sua cama.
Agora, agradeço-lhe que me desampare a manjedoira.
– Não. Não - ladrou o cão.
– Admito que esteja a incomodá-lo, mas será por pouco
tempo. Com a fome que trago, garanto-lhe que como o
feno num instante. Podia afastar-se por um bocadinho?
– Não. Não - ladrou o cão.
– Eu entenderia a sua má disposição se o soubesse
apreciador de feno. Mas se para si não serve, senão como
cama, porque me proíbe de comer? Ou quer provar
também do meu jantar?
– Não. Não – ladrou o cão.
Era malhar em ferro frio. O cão não saía da sua, não se
convencia com boas palavras. Que outros argumentos
podia o boi utilizar?
Vamos lá ver. Só há duas saídas para esta história.
Numa, o boi manso desiste da ceia e passa a noite roído
de fome. No dia seguinte, voltará a trabalhar, em estado de
fraqueza e tão debilitado que não conseguirá puxar o carro,
como o dono lhe exige. Um boi sem préstimo é um boi
condenado ao matadouro. Um triste fim, portanto.
Noutra hipótese, o boi manso lembra-se de que tem em
comum com os bois bravos os chifres pontiagudos, que
servem de defesa e de ataque. Uma marrada de boi é um
caso sério.
Qual dos dois fins vamos escolher?
Tu é que decides. Tu é que mandas.
Já decidiste?
Pois foi assim mesmo, tal como determinaste. Uma
resolução muito acertada.
Contar mais, para quê? O que se passou dentro do
estábulo nem se descreve. Tudo muito rápido.
Está, agora, um cão a ganir às estrelas:
– Caim! Caim! Boi ruim! Caim! Caim!
Porque será?

FIM

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