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sexta-feira, 5 de outubro de 2012

História para 05.10.2012

O SULTÃO BONACHEIRÃO
Era um sultão bonacheirão.
Sentado em almofadas, bem instalado, de pernas
cruzadas, o sultão bonacheirão ouvia, sorria e calava.
Vinham ministros falar-lhe das arcas dos tesouros do
reino quase vazias, e o sultão bonacheirão ouvia, sorria e
calava.
Vinham generais falar-lhe da iminência de guerras
desastrosas, de inimigos do reino que rondavam as
fronteiras, e o sultão bonacheirão ouvia, sorria e calava.
Vinham mensageiros falar-lhe de desastres sem fim:
secas nas províncias ocidentais, avalanches nas províncias
orientais, bandos de salteadores desenfreados nas
províncias da montanha, inundações, naufrágios, miséria
na província litoral, e o sultão bonacheirão ouvia, sorria e
calava.
Tanto sorria e tanto calava que os ministros, os generais
e os mensageiros desistiram de lhe falar.
Um por um, foram abandonando o palácio do sultão, e
com eles saíram os cortesãos, os guardas e os criados.
Ficou o sultão sozinho, sentado em almofadas, de pernas
cruzadas, sorrindo, sorrindo sempre.
Mas a certa altura, o sultão bonacheirão sentiu uma
comichão na mão. Eram duas formigas.
Dizia uma para a outra:
- Estou desconfiada que somos as últimas.
- As aranhas já fecharam com as suas teias as portas do
palácio. As portas e as janelas - dizia a outra.
- Despachemo-nos, despachemo-nos - diziam as duas,
enquanto atravessavam a mão do sultão, desciam pelas
almofadas e corriam pelo chão…
O sultão deixou de sorrir.
- Esperem por mim - balbuciou, levantando-se a custo.
Foi atrás das formigas e enfiou por um subterrâneo do
palácio, onde se enfarruscou todo, a ponto de, uma vez cá
fora, ninguém o reconhecer como sultão.
Havia grande agitação na praça, diante do palácio.
- O príncipe Aldi tomou sobre si o governo do reino. É
um príncipe bom e corajoso. Vai dar um bom sultão  -
informou um homem, passando pelo sultão bonacheirão,
que não sorria.
- O antigo sultão era um paspalhão. Não prestava para
nada, não sabia governar - disse outro homem, passando
pelo sultão, que não sorria. - A estas horas ainda deve estar
no palácio, de pernas cruzadas sobre uma montanha de
almofadas. Sultão paspalhão! Vamos lá nós e cai tudo ao
chão.

- Vamos! Vamos! - gritaram várias vozes.
Desta vez o sultão bonacheirão, vendo-os ir em direcção
ao palácio, ouvi-os, sorriu e calou-se.
Escapou-se.


FIM

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