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sábado, 11 de agosto de 2012

História para 11.08.2012


HÓSPEDES INDESEJÁVEIS


Depois do almoço, altura de menor movimento na
estalagem, o senhor Pestana, protegido pelo balcão da
entrada, lia tranquilamente o seu jornal. Às vezes
dormitava, o que não era de censurar. Se, nos respectivos
quartos, os hóspedes faziam a sua sesta, porque não havia
o hospedeiro de fazer o mesmo?
Foi numa ocasião destas que uma vozinha sobre o balcão
perguntou:
– Tem quartos livres?
O senhor Pestana levantou os olhos do jornal, mas não
viu ninguém. Debruçou-se do balcão e espreitou para o
outro lado, não fosse o cliente de baixa estatura. Nem
sombra. "Adormeci, foi o que foi, e já estava a sonhar com
mais hóspedes", pensou, resignadamente, o senhor
Pestana.

– Afinal, tem ou não tem quartos disponíveis? – voltou a
perguntar a vozinha, já com alguma impaciência.


Quem tem voz, tem corpo. Para não prolongar  o
mistério, vamos já esclarecer que o corpo desta voz tinha o
tamanho de uma pulga. Era efectivamente uma pulga  a
causadora da confusão.
– Pretende um quarto com vista para o lago?  –
perguntou o senhor Pestana, que não se perturbava por tão
pouco.
– A vista é o menos – respondeu a pulga. – Mas
queremos sossego.
– Queremos? – estranhou o senhor Pestana. – Quantas
são?
– Vinte e cinco, contando comigo. É um grupo de
excursionistas.
O senhor Pestana estava desolado. Não tinha quartos que
chegassem. Mas não quis perder a oportunidade:
– Se coubessem todas em três quartos...

A pulga aceitou a sugestão. Não tencionavam demorar-
-se muito. Duas noites, se tanto.
– Também precisamos de instalações para o nosso
transporte – lembrou a pulga. – Uma casota chega.
– Casota para a camioneta? – admirou-se o senhor
Pestana.
A pulga riu-se. Tinha um riso fininho, irritante esta
pulga.
– Nos nossos passeios, deslocamo-nos sempre de cão.
Temos um cão privativo e muito felpudo, que nós guiamos
para onde queremos.
O senhor Pestana começava a arrepender-se de ter dado
hospedagem aquelas pulgas presumidas.
Na manhã seguinte, mais se arrependeu. Vieram ter com
ele hóspedes antigos e respeitáveis queixar-se de que


tinham dormido mal, assaltados durante a noite por
cócegas e picadas esquisitas, inconvenientes. Estão  a
entender, não é verdade? Efectivamente, algumas
excursionistas tinham-se enganado no número do quarto...
O senhor Pestana, muito incomodado, foi ter com  a
responsável pela excursão:
– Desculpem, mas não podem continuar cá. Está em
jogo a reputação da minha estalagem.
As pulgas compreenderam a situação. Pagaram a conta e
chamaram o transporte privativo, para mudarem de poiso.
Quando foram fazer a contagem, eram vinte e oito.
O senhor Pestana preocupou-se:
– Como apareceram essas três a mais?
– Dizem que são inglesas – esclareceu a pulga chefe. –
Parece que as viram num fox-terrier, pêlo de arame, de um
"mister" qualquer. Agora querem acamaradar connosco.
Nós não nos importamos.

O senhor Pestana também não se importava. Desde que
deixassem a estalagem, era-lhe indiferente, mas pelo sim
pelo não, andou a espalhar insecticida por baixo das camas
de todos os quartos.
FIM







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