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sábado, 18 de agosto de 2012

História para 18.09.2012


OS DOIS PRIMOS LI


Eram dois primos, mas nem pareciam. Um, Li-Fong,
um coração de oiro. O outro, Li-Kong, um patifório sem
coração.
Trabalhavam ambos no mesmo ramo. Cada qual tinha
um armazém de sementes e frutos secos, frente a frente,
numa das ruas de mercadores da cidade Piong, na
Península da Coreia.
Li-Kong passava o tempo a queixar-se de tudo. Eram os
negócios que corriam mal. Eram as chuvas que vinham
fora da época. Eram os pássaros que lhe roubavam as
sementes.
Li-Fong sorria a tudo. Se tinha razões de queixa, não se
dava por isso. Até os pássaros que depenicavam sementes,
à porta do armazém, lhe davam motivo para sorrir.


Uma vez, uma pequena andorinha, que ainda não sabia
voar, partiu uma asa, ao cair no beiral. Li-Fong cuidou dela
e com muito carinho pôs-lhe uma tala, que atou com um fio
à asa partida.
A andorinha recuperou e, chegado o Outono, ganhou
forças para subir aos ares com as suas companheiras, em
direcção a outras paragens. Mas não se esqueceu de quem
a salvara...
Na Primavera seguinte, passou pelo armazém de
Li-Fong e depositou nas mãos do seu protector uma
semente, que trouxera no bico, sabe-se lá donde. Depois,
abalou.
Li-Fong, que sabia tudo de sementes, mas não conhecia
aquela, resolveu semeá-la no quintal. A semente germinou
e uma planta de grandes folhas verdes trepou pela parede.
Li-Fong regava-a cuidadosamente e animava-a a crescer,

com palavras de mimo, como se ela o entendesse.
A planta deu flor e a flor fruto, um grande e estranho
fruto dourado do tamanho de uma abóbora. Li-Fong
cheirou-o, mas não o reconheceu pelo cheiro. A bem dizer,
não cheirava a nada. Em contrapartida, encostando  o
ouvido à casca do fruto, parecia que se ouvia música e uma
longínqua agitação de festa.
O primo Li-Kong troçou dele, com o seu habitual
azedume:
– Esse fruto estapafúrdio vai dar-te para fazeres uma
sopa de barulho.
Li-Fong resolveu-se a abri-lo e, quando o fez, diante do
primo, ficaram ambos sem fala. Daquela espécie de
abóbora saiu um exército de criados que armou mesas e
dispôs iguarias para um grande banquete. Seguiu-se um

exército de artesãos que montou móveis, estendeu tapetes,
armou cortinados e transformou o armazém num palácio.
Depois, vieram músicos e com eles um financeiro,
carregado de sacos, cheios de moedas de ouro.
No fim – ah! ah!, no fim... – saiu do fruto mágico uma
jovem linda que disse que queria casar-se com Li-Fong.
E tudo, num repente, num sopro, sem que os dois primos
tivessem sequer tempo para fechar a boca.
O invejoso do Li-Kong não descansou enquanto não
soube a origem de toda aquela fortuna. Quando o primo lhe
contou a história da andorinha que socorrera, Li-Kong
rangeu os dentes e disse:


– Só por isso? Então, não custa nada.
Foi ao beiral do seu armazém, pegou numa andorinha,
que ainda estava no ninho, e partiu-lhe uma asa. Em
seguida, muito despachadamente, depois de ter feito o mal,
tentou fazer o bem. Tal como o primo lhe ensinara, atou
uma tala à asa partida da pobre andorinha e recomendou-
-lhe, ameaçadoramente:
– Vê lá se agora não te esqueces de mim...
De facto, na Primavera seguinte, esta andorinha quis
demonstrar a Li-Kong que estava bem lembrada do que ele
lhe fizera. Trouxe-lhe uma semente.
Li-Kong enterrou-a no quintal e ficou à espera. Brotou
da terra uma planta de grandes folhas verdes, que demorou
a crescer, parede acima.
– Então cresces ou não cresces, maldita? – impacienta-
va-se Li-Kong. – Dá-me frutos, depressa.

A planta fez-lhe a vontade e presenteou-o com três
enormes frutos dourados.


– Vou ser três vezes mais rico do que o meu primo  –
rejubilava Li-Kong, de faca na mão.
Golpeou o primeiro fruto, que se abriu numa grande
gargalhada e logo se desfez.
Segundo fruto e outra gargalhada enorme...
Furioso, Li-Kong atirou-se ao terceiro fruto, como se a
faca fosse um punhal.
– Não quero que te rias mais de mim! Não quero que te
rias! – gritava ele.
Pelos lanhos abertos no fruto disparou uma ventania que
varreu as sementes todas do armazém. Saltaram portas e
janelas, voaram as telhas e estremeceram as paredes até aos
alicerces. Li-Kong, soprado para longe, perdeu os sentidos.
Quando os recuperou viu-se sozinho, desamparado, no
meio das ruínas.


FIM








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