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domingo, 19 de agosto de 2012

História para 19.02.2012


A PRINCESA QUE PERDEU A FALA


Era uma vez uma princesa que perdera a fala. Que
tinha sido, que não tinha sido, não se sabia. Não falava,
pronto.
Quanto ao resto, era igual às outras princesas. Até talvez
mais bonita.
Pena que não se casasse. Pretendentes não lhe faltaram,
todos nobres e distintos moços, mas a princesa fazia uma
careta mal os via e estava tudo dito.
O rei, irmão da princesa, tinha muita pena dela e tudo
daria para curá-la daquele estranho mal. E também gostaria
que ela se casasse e fosse feliz.
Um dia, anunciaram que a comitiva de um príncipe
estrangeiro, vindo de muito longe, se acercava do palácio
para prestar homenagem ao rei e à princesa.


– Outro pretendente – comentaram os fidalgos da corte.
– Outra careta da princesa – comentaram os fidalgos da
corte.
O príncipe vinha embuçado. Nem um bocadinho da cara
se lhe via. Só os olhos.
Depois de reunir-se com o rei, foi apresentado  à
princesa.
– Minha querida irmã, este príncipe de terras distantes
manifestou-me, com muito boas razões e promessas de
aliança, o seu profundo  desejo de desposar-te.
Isto disse o rei para a irmã. E continuou:
– A proposta pareceu-me tão interessante para o nosso
reino, que eu não vejo motivo para que tu, mais uma vez,
me contraries. Tantas foram as tuas caretas aos anteriores
pretendentes, que não tolero nem mais uma recusa.
A princesa, de cara fechada, apertava os lábios. Ela era
muda, mas não era surda e não estava nada agradada com
o que ouvia. Nunca o irmão se lhe dirigira com tanta

severidade.
– Desta vez, quando o príncipe se aproximar de ti, para
se declarar, tens de oferecer-lhe o teu melhor dos sorrisos
– recomendava-lhe o rei.
Nada fazia prever que o tal sorriso despertasse no rosto
crispado e colérico da princesa.
Veio o príncipe de cara tapada.
– Ele parece que não é dotado de grande beleza, mas será
certamente um bom marido – segredou-lhe o mano.
Caiu ao príncipe a capa que o ocultava. Um frémito
percorreu a sala, cheia de cortesãos. O príncipe era um
monstro. Nada de mais feio alguma vez se vira.
– Apresento-te o teu noivo – anunciou o rei.


– Não! – gritou a princesa. – Não, não e não! Que
horror.
Depois de ter proferido estas palavras, a princesa fugiu
do salão e refugiou-se no quarto.
– Mas falou – disse o príncipe-monstro, descolando da
cara a máscara monstruosa.
Era, afinal, um rapaz de muito bom parecer. Entre ele e
o rei havia combinação. O jovem príncipe, em anterior
visita ao palácio, sofrera a humilhação de ver-se preterido
por uma careta da desdenhosa princesa. Merecia ela de
resposta outra careta ainda maior. Foi o que o príncipe fez,
mostrando-lhe a caraça. O amor pode muito.
– A perda da fala da princesa terá tido por origem um
susto – explicava o príncipe ex-monstro. – Só outro grande
susto podia curá-la, como se provou.
Houve festa no palácio. A princesa, pelo sim, pelo não,
saiu do quarto e veio espreitar. Não é que, pouco depois,





estava a dizer sim ao tal príncipe apaixonado?



FIM


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