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quarta-feira, 19 de setembro de 2012

História para 19.09.2012

SOL POENTE


Ia um homem a correr por uma extensa planície
relvada, que nem cem campos de futebol, uns a seguir aos
outros. Ia o homem a bom correr, mas não ia sozinho.
Atrás dele, resfolegande, de chifres curvados, um
enorme boi. Aliás, um touro. O homem corria, corria, nem
ele sabia para onde, gritando:
– Uma árvore! Socorro! Uma árvore!
Mas naquela planície não tinham plantado nenhuma,
nem as árvores se deslocam donde estão, para socorrerem
um pobre homem, a correr numa planície nua.
– Um buraco! Ao menos, um buraco! Socorro! – gritava
o homem, quase no limite das suas forças.
Mas também não havia buracos, naquela planície lisa.
Situação desesperante.

A sombra do homem e a sombra do touro deslizavam
pelo chão, quase a tocarem-se. Alongavam-se uma e outra,
cada vez mais estiradas pela planície, porque o Sol descia
a olhos vistos e, daí a nada, iria desaparecer no horizonte.
– Se continuas a perseguir-me, roubo-te o Sol – gritou o
homem, num último alento.
O touro não lhe deu ouvidos. Continuou a correr de
cabeça baixa, atrás do homem. Nisto, o Sol escondeu-se,
sem dizer sequer: "Até amanhã".
– Vês do que eu sou capaz? – gritou o homem, sem parar
de correr.
As sombras do homem e do touro tinham sido engolidas
pela penumbra. O touro estacou, atemorizado.
A uma prudente distância, o homem gritou-lhe:
– Se queres que eu te traga o Sol, outra vez, deixa-me
seguir, sozinho, naquela direcção – e o homem apontava o
sentido contrário ao Sol posto.

O touro, que já sentia falta do Sol, concordou. Então, o
homem, num passo a fingir de seguro, caminhou, sem
pressa, em direcção ao oriente. Salvara-se.
Na manhã seguinte, o Sol, tal como o homem tinha
prometido, voltou a aquecer o touro e a planície, a perder
de vista.

FIM


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