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domingo, 30 de setembro de 2012

História para 30.09.2012

VIDA DE SABONETE

Era um sabonete novo, fresquíssimo, por estrear.
Nunca tinha tomado banho.
Naquela gaveta de drogaria, onde ele, junto com muitos
outros colegas, aguardava a vez de ser vendido, já tinha
perguntado, ainda que timidamente:
– Afinal, para o que é que eu servi?
– Serves para lavar e perfumar – respondeu-lhe um
velho sabonete de alcatrão, muito sabedor das coisas da
vida. – Vais dar banho, tomar banho... Descansa que o que
te espera vai ser bom.
Um sabonete para a caspa, ou melhor, contra a caspa,
acrescentou:
– Mas tudo o que é bom também acaba.
Era o rezingão do grupo.
O sabonete novo teve a oportunidade de confirmar as
previsões do velho sabonete. Tudo aconteceu como ele
dissera. Deu banhos e tomou banhos, escorregou vezes
sem conta pelo mármore polido da banheira, conviveu com
esponjas, escovas macias e conheceu da anatomia do corpo
mais do que um pintor de nus.
Mas, redondo que tinha sido, estava agora delgadito.
Ainda foi parar à beira de um lavatório, a par de outros tão
magros quanto ele.
– Somos, agora, sabonetes de lavar as mãos – avisaram-
-no os companheiros. Até ver... Tudo o que é bom também
acaba.
Lá estava o aviso, de novo a insinuar-se, a dar que
pensar.
Ele e os outros da saboneteira foram-se desfazendo em
espuma. "Tudo o que é bom também acaba".  O
sabonetinho, que tinha sido novo, começava a perceber.
Até que veio um menino que queria fazer uma
caldeirada. No dizer desse menino "caldeirada" era juntar,
numa tigela, sobras de sabão e de sabonetes, acrescentar
água, remexer com uma cana e, depois da calda pronta,
soprar por um canudo bolas de sabão.
Subiram pelo ar, atraídas pela luz rolaram, soltas, leves,
felizes, grandes e pequenas bolas de sabão, como gotas ou
lágrimas do arco-íris. Voaram, perderam-se pelo azul do
céu...
Tudo o que é bom também acaba. Mas, às vezes, acaba
bem.


FIM

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