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segunda-feira, 3 de setembro de 2012

Hstória para 03.09.2012


UM HÓSPEDE DE FAZER FUGIR


Aquele senhor não tinha nada bom aspecto. Havia
qualquer coisa nele que intimidava. Talvez fosse da capa
que usava sempre, quer de dia quer fosse noite. Talvez
fosse do cabelo preto e lustroso, muito colado ao crânio e
apartado em risco ao meio. Talvez fosse da dentição alva e
impecável, onde sobressaíam dois caninos que metiam
impressão...
Quando, na estalagem do senhor Pestana, este senhor
impressionante pedia ao jantar:
- Um bife muito mal passado. Em sangue...
E ria-se, exibindo os tais caninos pontiagudos... Os
outros hóspedes arrepiavam-se todos.

– V. Exª quer com acompanhamento de batatas ou de
arroz? – perguntava, a medo, o senhor Pestana.

– Tanto faz – respondia o senhor de cabelo abrilhanti-
nado. – Desde que seja em sangue... E não me trate por V.
Exª. Prefiro que me trate por conde.
Nessa noite, os restantes hóspedes fecharam as portas
dos quartos à chave e empurraram cómodas e maples que,
encostados às portas, impedissem qualquer entrada
indesejável. E não pregaram olho.
No dia seguinte, todos pediram as respectivas contas e
saíram, num grande alarme.
– Podemos lá continuar numa casa onde está o conde
Drácula, o terrível vampiro, chupa-sangue – diziam os
hóspedes, despedindo-se apressadamente do senhor
Pestana.

O dono da estalagem estava desolado. Ficava com a casa
às moscas. Que prejuízo!
O senhor Pestana encheu-se de coragem e foi bater  à
porta do conde Drácula, que acordava tarde.
– Para o pequeno almoço quero chá, leite e torradas –
disse o conde, quando o senhor Pestana entrou.
Assim, em pijama, não parecia nada assustador.
– Não prefere um bifinho em sangue? – perguntou,
desconfiado, o senhor Pestana.
– Ao pequeno almoço, que horror! – exclamou o conde,
repugnado.

– E para o almoço? – perguntou o senhor Pestana.
– Pode ser peixe grelhado, se houver – respondeu  o
conde.
– Fica o bife em sangue para o jantar... – concluiu  o
senhor Pestana.
– Chega de bife em sangue – riu-se o conde, sem que no
riso sobressaíssem os dentes pontiagudos. – Isso foi só

ontem, para o ensaio, a ver se surtia efeito.
O senhor Pestana não estava a perceber, mas o conde
explicou. Ele era actor e, quando acabasse as férias, iria
representar uma peça, onde desempenhava o papel de
Drácula, o tal conde guloso do sangue das suas vítimas.
Trouxera os preparos para o seu desempenho e apurara-se
a ensaiar. Só isso.
O senhor Pestana não achou graça. Quem o indemni-
zava da súbita perda de clientela, assustada pelo falso
Drácula?
– Tudo se resolverá – disse o actor. – Hoje mesmo vou
encher-lhe a estalagem com os restantes colegas da
companhia.

Assim aconteceu. Mas como a peça era de terror, a sala
de jantar da estalagem encheu-se de uma estranha
população, vestida a rigor. Uns de vampiros, outros de
fantasmas, um de Frankenstein e vários de monstros, numa
alegre algazarra, poriam os cabelos em pé a quem,
desprevenidamente, entrasse para jantar. Muito agitado, a
servi-los, o senhor Pestana não se importava. Tinha  a
estalagem cheia. Isso é que era importante.


FIM








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